sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ISMAEL HIPÓLITO DJATA – IRMÃOS UNIDOS - UMA MENSAGEM A TODOS OS QUE TRABALHAM EM PROL DE DESENVOLVIMENTO DE ALGO

A sua juventude deixa prever que ainda tem muito para dar ao mundo da arte, mais ao país que o viu nascer, a sua Guiné-Bissau onde quer voltar para fazer diferença. O seu nome é incontornável no mundo da arte plástica, mas não é única arte que lhe ocupa o tempo. A OG falou com Ismael Hipólito Djata, um dos membros dos Irmãos Unidos. A sua vida, o seu percurso, as ambições, o país e muito mais.

Como começou a pintar?
A arte é uma dádiva da natureza, é um dom com que nascemos.
Aos 6 anos já manifestava paixão pelo desenho. Quando os meus irmãos mais velhos estudavam o meu pai dava-me lápis e papel e ficava a fazer desenhos, assim fui ganhando gosto para ilustrações. Nos primeiros anos da escola era sempre chamado ao quadro para desenhar o corpo humano na disciplina de ciências naturais. As minhas colegas de turma pediam sempre desenho de rosas. Depois passei a imitar um colega mais velho que desenhava cartazes para os filmes que passavam no bairro. Estava sempre a desenhar e escrever poemas. São momentos marcantes na minha vida.
Depois mudamos para Bissau onde comecei a participar nas actividades associativas através da CNJ. Com a guerra de 7 de Junho de 1998 refugiamos para Bafata, onde aprendi com alguns jovens como esculpir as cabaças, foi algo que despertou em mim vontade de fazer que vi-os pela primeira vez a fazê-lo na rua. Com o fim da guerra voltamos para Bissau, quando terminamos os estudos, eu e mais alguns colegas, candidatamos para bolsa de estudos e devido às ilicitudes da corrupção no país não consegui bolsa, foi revoltante, senti-me arrasado, quando cheguei a casa pedi dinheiro a minha mãe, ela deu-me 500 FCFA, nem sabia para quê… revoltado fui vaguear pela feira de bandim, estava desesperado a andar até que encontrei cabaça e lembrei-me do que aprendera no tempo de refugiado. Quando soube que no Centro Artístico havia pessoas que esculpiam cabaça fui lá mas a pessoa estava de saída acabei por voltar a casa e fazer o meu trabalho, saiu bem, o meu irmão gostei e levou para vender, quando voltou a casa disse que tinha vendido por um preço muito bom e tinha uma encomenda para mais 20. Foi assim que os três irmãos (Ismael, Issa, Lemos) mais o primo (Ussumane) começaram a trabalhar juntos.

Irmãos Unidos, porquê?
Muito mais que simples nome do grupo
Estávamos a preparar a encomenda quando surgiu a discussão sobre o nome, como é que devíamos assinar os trabalhos até que o meu pai sugeriu Irmãos Unidos, em vez do nosso apelido, Irmãos Unidos porque assim sentíamos éramos uma família e o nosso primo fazia parte da família e todas as pessoas com quem trabalhamos. “Irmãos Unidos” engloba toda gente que trabalha em prol de um bem-estar. A nossa mensagem para todos.

Fala-me do seu percurso, como tem sido?
Depois França, Portugal e o Mundo…
Com este trabalho começamos a fazer mais desenhos, mais esculturas e vendia sempre, de repente éramos falados sem as pessoas saberem que éramos nós porque só assinávamos Irmãos Unidos. Mais tarde fomos convidados para uma exposição na reabertura do Centro Cultural Francês, onde uma senhora da organização viu o nosso trabalho e convidou-nos para uma exposição em França. Viemos os três porque o nosso primo tinha voltado para Bafata por causa da saúde do pai dele. A exposição em França durou três meses. Dali viemos para Portugal continuar os estudos, em Évora, enquanto estudávamos fomos convidados para sermos professores assistentes. Desde então que temos feito exposições em Portugal e na Europa, temos recebido distinções. E temos enriquecido o nosso trabalho a participar nas exposições e conversas com outros artistas.
Todos os dias adquiro mais conhecimentos. Faço trabalhos para gostar, os prémios dão força e motivar para continuar a mostrar o que sei fazer.

A inspiração. Tem alguma inspiração especial?
Inspiro-me em qualquer coisa e a qualquer altura. A tristeza leva a exprimir tudo. Inspiro-me muito pela tristeza alheia, ver pessoas que se revoltam contra o estado das coisas, inspiro-me pelas mulheres, as crianças. Aliás as mulheres e crianças são o que mais utilizo.

O país e o estado das artes…
Representaremos o país até a última gota do nosso suor
Temos bons pintores. A cultura guineense abrange, quase, toda a cultura de África Ocidental. Temos 36 etnias e cada uma com a sua cultura. Na Guiné-Bissau a cultura não é respeitada, não é valorizada. Vejamos Carlos Barros e Diamantino Miranda, o que é feito destes grandes pintores? Os irmãos Manuel e Fernando Júlio quem lhes valoriza? São pessoas que estão a fazer grandes trabalhos.
Nós estamos aqui a tentar transmitir imagens positivas da Guiné-Bissau, somos embaixadores da cultura do país, representaremos o país até a última gota do nosso suor. Se for valorizado a cultura podia gerar milhões e milhões para o país, o carnaval podia levar milhares de turistas ao país. Os ministros da Guiné-Bissau são fantoches, não conhecem a cultura nem os artistas. E deviam saber que a cultura é o espelho de, qualquer, país.

A Ambição e a arte, poesia e os próximos projectos
Procuro ir mais além na cultura e alcançar os patamares mais alto que existe neste momento. Procuro, acima de tudo, valorização e respeito pelo que faço.

A arte, seja pintura ou poesia, é a minha sombra, está sempre comigo: ao lado, a frente ou atrás. Pinto sempre que não estou na universidade. E faço directamente para a tela, não sou pintor de esboços. Quanto à poesia faço em qualquer lugar, sempre que me sinto inspirado, às vezes, recorro ao telemóvel.
Em Janeiro termino o curso, depois tenho várias exposições internacionais. Em Maio ou Junho gostava de levar os meus trabalhos aos meus irmãos na Guiné-Bissau. Também quero lançar o meu livro, quero mostrar esta parte de mim.

Um conselho de Artista
O que gostava é que as pessoas acreditassem em si, nas suas capacidades e nunca desanimarem. Acreditem e ponham amor e dedicação em tudo que fazem. É um conselho que dou a todos. 

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