sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

MOVIMENTO DA SOCIEDADE CIVIL

COMUNICADO À IMPRENSA



Os guinnenses e a Comunidade Internacional foram surpreendidos ontem dia 09 de Janeiro de corrente ano com anúncio pelas autoridades nacionais da Morte por motivo da doença, da Sua Excelencia Malam Bacai Sanha, Presidente da Republica da Guine-Bissau.

O dessaparecimento fisico  do Presidente Malam Bacai Sanha constitui perda iriparavel para o país, para o povo guineese e a familia enlutada, por quanto o Presidente Bacai Sanha representava simbolo da Unidade Nacional e da Estabilidade do país.

Malam Bacai Sanha, Combatente da Liberdade da Patria, Estadista, Democrata por Excelencia, Homem de Paz e de Dialogo que deu toda a sua vida e energia em prol de uma Guiné-Bissau independente e de progresso.

Neste momento de dor e constarnação profunda, o Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento apresenta ao povo guineense e a familia enlutada as suas mais sentidas condolencias e roga para que a sua alma descanse em Paz.

O Movimento aproveita esta oportunidade para lançar um vibrante apelo aos actores politicos no sentido de trabalharem todos para uma estabilidade politico-institucional da guine-Bissau e, no que tange a sucessão do Presidente, que seja respeitado a constituição da Republica.

Aos nossos militares e para-militares no sentido de cumprirem com as suas missões constitucionais ou seja: subordinação ao poder polico e a defesa de entegridade territorial do Estado.

A populaçao em geral que continuemos serenamente unidos e esperançados de que as instituiçoes democraticas do país, guiados pela constituiçao, saberao ultrapassar este momento dificil do país.







Bissau, 10 de Janeiro de 2012.

Movimento da Sociedade Civil.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

(De) Luto pela Guiné-Bissau


“A minha pátria é o amor da minha vida”
Frase atribuído ao Malam Bacai Sanhá, falecido presidente da Guiné-Bissau

A segunda-feira 9 de Janeiro trouxe-nos, aos guineenses e amigos, a dolorosa e consternada notícia de desaparecimento físico de Malam Bacai Sanhá, o seu Presidente da República, vítima de doença prolongada. A perda é grande quer pelo que a figura representa, assim como pelo momento conturbada em que acontece este revés duríssimo.
Janeiro outra vez.
Janeiro é mês de Combatentes da Liberdade da Pátria, em honra dos heróis que libertaram a Guiné-Bissau do jugo colonial, personificados no Amílcar Cabral.
E Janeiro é o mês que em que a Heroína Nacional Titina Sila foi morta pelos colonialistas.

Por todos estes motivos e porque a união e partilha na dor são como uma almofada de suavização criamos está página para que todos possam homenagear o falecido Presidente Malam Bacai Sanhá, vamos desabafar neste mundo virtual e fazer os nossos votos. Encontre a página que criamos para o efeito no facebook: 

http://www.facebook.com/pages/DE-Luto-pela-Guin%C3%A9-Bissau/208638852559898?sk=wall

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ISMAEL HIPÓLITO DJATA – IRMÃOS UNIDOS - UMA MENSAGEM A TODOS OS QUE TRABALHAM EM PROL DE DESENVOLVIMENTO DE ALGO

A sua juventude deixa prever que ainda tem muito para dar ao mundo da arte, mais ao país que o viu nascer, a sua Guiné-Bissau onde quer voltar para fazer diferença. O seu nome é incontornável no mundo da arte plástica, mas não é única arte que lhe ocupa o tempo. A OG falou com Ismael Hipólito Djata, um dos membros dos Irmãos Unidos. A sua vida, o seu percurso, as ambições, o país e muito mais.

Como começou a pintar?
A arte é uma dádiva da natureza, é um dom com que nascemos.
Aos 6 anos já manifestava paixão pelo desenho. Quando os meus irmãos mais velhos estudavam o meu pai dava-me lápis e papel e ficava a fazer desenhos, assim fui ganhando gosto para ilustrações. Nos primeiros anos da escola era sempre chamado ao quadro para desenhar o corpo humano na disciplina de ciências naturais. As minhas colegas de turma pediam sempre desenho de rosas. Depois passei a imitar um colega mais velho que desenhava cartazes para os filmes que passavam no bairro. Estava sempre a desenhar e escrever poemas. São momentos marcantes na minha vida.
Depois mudamos para Bissau onde comecei a participar nas actividades associativas através da CNJ. Com a guerra de 7 de Junho de 1998 refugiamos para Bafata, onde aprendi com alguns jovens como esculpir as cabaças, foi algo que despertou em mim vontade de fazer que vi-os pela primeira vez a fazê-lo na rua. Com o fim da guerra voltamos para Bissau, quando terminamos os estudos, eu e mais alguns colegas, candidatamos para bolsa de estudos e devido às ilicitudes da corrupção no país não consegui bolsa, foi revoltante, senti-me arrasado, quando cheguei a casa pedi dinheiro a minha mãe, ela deu-me 500 FCFA, nem sabia para quê… revoltado fui vaguear pela feira de bandim, estava desesperado a andar até que encontrei cabaça e lembrei-me do que aprendera no tempo de refugiado. Quando soube que no Centro Artístico havia pessoas que esculpiam cabaça fui lá mas a pessoa estava de saída acabei por voltar a casa e fazer o meu trabalho, saiu bem, o meu irmão gostei e levou para vender, quando voltou a casa disse que tinha vendido por um preço muito bom e tinha uma encomenda para mais 20. Foi assim que os três irmãos (Ismael, Issa, Lemos) mais o primo (Ussumane) começaram a trabalhar juntos.

Irmãos Unidos, porquê?
Muito mais que simples nome do grupo
Estávamos a preparar a encomenda quando surgiu a discussão sobre o nome, como é que devíamos assinar os trabalhos até que o meu pai sugeriu Irmãos Unidos, em vez do nosso apelido, Irmãos Unidos porque assim sentíamos éramos uma família e o nosso primo fazia parte da família e todas as pessoas com quem trabalhamos. “Irmãos Unidos” engloba toda gente que trabalha em prol de um bem-estar. A nossa mensagem para todos.

Fala-me do seu percurso, como tem sido?
Depois França, Portugal e o Mundo…
Com este trabalho começamos a fazer mais desenhos, mais esculturas e vendia sempre, de repente éramos falados sem as pessoas saberem que éramos nós porque só assinávamos Irmãos Unidos. Mais tarde fomos convidados para uma exposição na reabertura do Centro Cultural Francês, onde uma senhora da organização viu o nosso trabalho e convidou-nos para uma exposição em França. Viemos os três porque o nosso primo tinha voltado para Bafata por causa da saúde do pai dele. A exposição em França durou três meses. Dali viemos para Portugal continuar os estudos, em Évora, enquanto estudávamos fomos convidados para sermos professores assistentes. Desde então que temos feito exposições em Portugal e na Europa, temos recebido distinções. E temos enriquecido o nosso trabalho a participar nas exposições e conversas com outros artistas.
Todos os dias adquiro mais conhecimentos. Faço trabalhos para gostar, os prémios dão força e motivar para continuar a mostrar o que sei fazer.

A inspiração. Tem alguma inspiração especial?
Inspiro-me em qualquer coisa e a qualquer altura. A tristeza leva a exprimir tudo. Inspiro-me muito pela tristeza alheia, ver pessoas que se revoltam contra o estado das coisas, inspiro-me pelas mulheres, as crianças. Aliás as mulheres e crianças são o que mais utilizo.

O país e o estado das artes…
Representaremos o país até a última gota do nosso suor
Temos bons pintores. A cultura guineense abrange, quase, toda a cultura de África Ocidental. Temos 36 etnias e cada uma com a sua cultura. Na Guiné-Bissau a cultura não é respeitada, não é valorizada. Vejamos Carlos Barros e Diamantino Miranda, o que é feito destes grandes pintores? Os irmãos Manuel e Fernando Júlio quem lhes valoriza? São pessoas que estão a fazer grandes trabalhos.
Nós estamos aqui a tentar transmitir imagens positivas da Guiné-Bissau, somos embaixadores da cultura do país, representaremos o país até a última gota do nosso suor. Se for valorizado a cultura podia gerar milhões e milhões para o país, o carnaval podia levar milhares de turistas ao país. Os ministros da Guiné-Bissau são fantoches, não conhecem a cultura nem os artistas. E deviam saber que a cultura é o espelho de, qualquer, país.

A Ambição e a arte, poesia e os próximos projectos
Procuro ir mais além na cultura e alcançar os patamares mais alto que existe neste momento. Procuro, acima de tudo, valorização e respeito pelo que faço.

A arte, seja pintura ou poesia, é a minha sombra, está sempre comigo: ao lado, a frente ou atrás. Pinto sempre que não estou na universidade. E faço directamente para a tela, não sou pintor de esboços. Quanto à poesia faço em qualquer lugar, sempre que me sinto inspirado, às vezes, recorro ao telemóvel.
Em Janeiro termino o curso, depois tenho várias exposições internacionais. Em Maio ou Junho gostava de levar os meus trabalhos aos meus irmãos na Guiné-Bissau. Também quero lançar o meu livro, quero mostrar esta parte de mim.

Um conselho de Artista
O que gostava é que as pessoas acreditassem em si, nas suas capacidades e nunca desanimarem. Acreditem e ponham amor e dedicação em tudo que fazem. É um conselho que dou a todos. 

terça-feira, 8 de novembro de 2011

REAGENDADO PARA DIA 17.11 - CONEXÃO LUSÓFONA EM DEBATE. Pela primeira vez em Portugal

Pepetela, Mia Couto, João Paulo Cuenca, Marcelo Rebelo de Sousa, Kalaf, Maria Furster Pimentel, Ondjaki, Marcelo Rebelo de Sousa, Tiago Soares, Jorge Braga de Macedo, Tamara Silva e José Luís Hopffer Almada marcarão presença no “Conexão Lusófona em Debate” - um encontro itinerante por toda a CPLP que aposta numa nova dimensão sobre a Lusofonia numa perspectiva contemporânea.
Com moderação da jornalista Maria João Ruela e encerramento do Director Geral da CPLP, Hélder Vaz, este ciclo de debates, promovido pela primeira organização de jovens dos países de língua portuguesa, pretende dar início a uma nova fase nas relações lusófonas, desta vez, liderada pela sua juventude.
A Organização acredita que é preciso conectar sentimentos, perspectivas e acima de tudo levar o tema da Lusofonia à discussão entre as novas gerações. Muito em breve, a Conexão Lusófona, que nasceu do encontro de jovens lusófonos na internet, levará esta iniciativa aos restantes países da Comunidade.
O evento terá lugar no próximo dia 17 de Novembro, no anfiteatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, entre as 15.30 e as 20.00 horas.
Dois dias antes, a Conexão Lusófona estará também presente em algumas faculdades da cidade universitária com a campanha “Conecta-te” - uma acção junto do público universitário que pretende, através da fotografia, despertar a juventude para uma maior relação de identificação e um sentimento de pertença à Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DJUMBAI SABI DA GUINÉ-BISSAU


Secreta esperança parte II
      
Se eu sou o mar
Tu és onda a rebentar
És nuvem a pairar
Estrela brilhante a cintilar

Dás sentido ao verbo viver,
Dás sentido às manhãs frias,
Tens olhos cor de avelã
Razão das minhas alegrias…

Tens o sorriso mais sincero
De todos os que já vi
O toque mais meigo
De todos os que já senti

E hoje, quando te vejo
Meu olho a brilhar
Dizem aquilo que és
A pessoa que quero amar

Na tarde, de sábado, em que o já consagrado poeta guineense Emílio Lima participou no lançamento da última edição da Colectânea Poesis, da Editorial Minerva, que contou com a participação de meia centena de autores lusófonos, a destacar a participação da jovem guineense Maria Correia, de doze anos, a mais nova dos autores. O Emílio Lima foi o maestro do Sarau Cultural Djumbai Sabi, onde estiveram presentes três dezenas de pessoas, no restaurante Tijolo, um espaço que foi limitado para uma noite de qualidade ilimitada, neste evento organizado pela OG – Onda Guiné.
A noite começou sem timidez com uma mini peça de teatro de André Mendes “Lagartixa” interpretado pelo Edson Incopté e Saibana Baldé, seguida de passadas e estórias de fazer rir. Depois a gastronomia do país, com caldos de mancarra e tcheben, como convidados especiais. A noite já era Djumbai Sabi e atracção ainda não tinha sido servida.
A poesia da Guiné-Bissau, poesia de djorson nobu, na voz doce da Rita Ié, no patriótico inconformismo de Edson Incopté, no crioulo fundo e romântico de Flaviano Mindela, na voz do super-qualificado e reconhecido talento de Emílio, uma vez acompanhado pela noiva Edviges Tavares, e a voz das inquietações de Saibana Baldé juntos e com a plateia entusiasmada e participativa fizeram acontecer uma noite artística incrível de elevado empreendedorismo cultural. Não faltaram poemas tocantes, caldeando vários sentimentos e vontades próprias da juventude que o escreve, não faltaram motivos de orgulho, que toda sente ao ler/ouvir poema da Maria Correia, que aos doze anos escreve como gente grande. O Edson Incopté, que está a preparar um trabalho a solo mostrou que é dotado de talento para a escrita, sempre num registo de inconformismo aliado ao optimismo de quem confia na sua geração, em português ou crioulo o seu poema transmite uma mensagem, uma vontade e várias lições, de quem abraça a sua realidade em cada verso que escreve. Venha daí este trabalho!

Revistando a Antologia Poética Juvenil da Guiné-Bissau – Traços No Tempo a noite serviu para projectar o segundo volume deste projecto que tem iluminado vários talentos do país, tendo começado com 23 autores, o coordenador Emílio Lima anunciou que o segundo volume contará com, quase, 60 jovens poetas e prosadores guineenses, que inclui todos os declamadores que estiveram presentes no evento.
A noite foi curta, bastante preenchida. Para lá de poemas, de estórias e passadas, além da gastronomia, da música, há que ressalvar o convívio, a boa disposição e muita alegria numa verdadeira noite djumbai caldeado entre crioulo e português, onde não faltaram tradutores improvisados, dignos de terem revelado o verdadeiro espírito da hospitalidade guineense. Fica a promessa de mais eventos!


Por Saibana Baldé
Fotos Telmo Correia e Emílio Lima

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

MANECAS E A GUINÉ-BISSAU POSITIVA - EM PRIMEIRA PESSOA


Realizado no verão passado, eis uma grande entrevista com o conceituado músico guineense Manecas Costa. O percurso, a música e o país. Uma conversa descontraída com o Ponta de lança da música Guineense.


“Existem condições para aparecer muitos Manecas na Guiné-Bissau”
Comecei com nove anos de idade, num país onde a música não é uma prioridade, mas onde existem condições para aparecer muitos “Manecas”, porque há talentos que muita gente desconhece. Foi uma altura muito bonita; subir ao palco com aquela idade e manter o equilíbrio até hoje.

Tive a sorte de conhecer José Carlos Schwarz, Super Mama Djombo, Nkassa Cobra, Cobiana Djazz, entre muitos outros… Grupos que na altura passaram aos jovens a sabedoria que guardo como referência. Para mim é um orgulho fazer parte da história dos mais velhos e da minha geração. Com nove anos nem conseguia agarrar bem na guitarra; é uma história engraçada. Infelizmente, na altura não havia meios de imagem na Guiné-Bissau.

Graças aos meus pais, consegui acompanhar as duas coisas: a escola e a música. Muito cedo tornei-me uma referência na Guiné-Bissau e, ao passar nas ruas, era reconhecido. São memórias que guardo com carinho e de um valor incalculável. Desde miúdo criei logo a ambição de poder estar com os mais velhos e ver o que faziam e tudo tomou o rumo que queria, baseado na simplicidade musical, na coragem; ser músico ambicioso, extremamente exigente comigo próprio e ser um músico do povo. E isso fez-me ser um músico querido, um músico que apreendeu muito com os mais velhos e fez-me fazer parte da história da música guineense, assim como o grupo “África Livre” que criei, miúdos com doze e treze anos de idade e acabámos por brilhar ao lado dos mais velhos, os Super Mama Djombo ou os Nkassa Cobra, vencendo festivais. E isso é óptimo e faz parte da história. Espero que a Guiné-Bissau possa ter mais pessoas assim, porque o talento existe.

O mais importante neste percurso foi o convite que o Zé Manel me fez para gravar o primeiro disco dele, tendo viajado para o estrangeiro. Na altura tinha 14 anos. Eu sou gémeo e lembro-me da minha falecida irmã chorar e dizer: “Manecas vai para Europa e não vai voltar”. Foi um período bonito, poder fazer parte do elenco de Zé Manel. Fui o primeiro músico guineense a tocar dois instrumentos na gravação de um disco. E logo, dos 14 aos 18 anos, ganhei festivais nacionais e internacionais. Quando voltei para a Guiné-Bissau fui nomeado embaixador da UNICEF por cantar temas de sensibilização para os problemas a nível da saúde, por preocupações com as crianças e por fazer trabalho de campo nas aldeias. Foi sempre um percurso de muita responsabilidade. Como agora, tenho a responsabilidade de levar a bandeira da Guiné-Bissau o mais longe possível, dignificá-la e fazer com que esteja nas prateleiras internacionais.

“Sou ponta-de-lança da música da Guiné-Bissau e quero marcar golos”

O meu percurso tem história e muita aprendizagem com os mais velhos que sempre me protegeram e ensinaram que tinha de ser bom, estudar, praticar muito e respeitar as pessoas, e isso criou em mim a responsabilidade.

A Guiné-Bissau é um país com dificuldades, onde a música nunca foi prioridade. Após a nossa independência já havia um guineense, o José Carlos Schwarz, a gravar com os norte-americanos. Ele estava no apogeu da sua carreira e tinha o objectivo de levar a música da Guiné-Bissau o mais longe possível. E foi isso que eu peguei. Vejo que ele tentou passar-me a ideia de ser aquilo que somos. Não quero ser um Mickael Jackson, quero ser aquilo que represento para uma nação, a Guiné-Bissau, com uma responsabilidade enorme. E sei que muita gente valoriza o que faço e confia em mim e acredita que a minha colaboração tem ajudado muito. Tenho de me assumir como “ponta-de-lança” da música da Guiné-Bissau e é assim que me sinto e, se estou à frente, quero marcar golos.

“Represento o lado positivo da Guiné-Bissau e enquanto puder ter a sorte de cantar e levar a bandeira do país e escrever o seu nome no mundo, vou fazê-lo”

No meu segundo álbum, “Fundu di Matu” gravado com a editora Balafon de José Augusto Tavares, fiz uma música para acalmar os meus compatriotas na altura do conflito armado. Tive também a colaboração de Luís Represas na música “Fidjus di Guiné Foronta” e estas duas músicas fizeram muito sucesso a nível internacional. Para meu espanto, recebi uma notícia da sociedade de autores de Portugal a enviar-me uma quantia pelo sucesso das minhas músicas. E recebi contacto de uma amiga jornalista de Espanha, emocionada com as minhas músicas cantadas em crioulo. Fiquei contente porque é sinal de que a ideia chegou às pessoas, que sem perceber crioulo sentem a música.

Depois foi feita uma colectânea com vários músicos dos PALOP, entre eles Paulo Flores, Dom Kikas e muitos outros, que também teve grande destaque. Fomos todos a Londres e não esqueço porque comecei a ganhar destaque, pelas duas musicas que já estavam a fazer sucesso lá. Lembro-me muito bem que nos concertos eram muitos os fotógrafos e jornalistas e a minha produtora apenas me disse: “Chegou a tua hora! É altura de pores a música da Guiné-Bissau num patamar internacional. Sei que é o teu sonho e esta é a tua oportunidade, de mostrares o lado positivo do teu país. Este é o teu caminho”. E o director comercial da BBC disse-me que sabia que eu tinha um concerto em Cartagena e que me ia ver. Fiquei pasmado porque era o director da BBC e eu não tinha nome. Aquele foi o concerto da minha vida e teve tudo de bom, da minha parte e da banda. E toda a BBC ficou encantada. No dia seguinte os jornais internacionais consideraram-me a revelação do festival.

A BBC proporcionou-me um encontro depois da entrevista na BBC 3, e quando saí eles estavam todos à porta com papéis, perguntando-me onde eu queria gravar, e eu respondi “na Guiné-Bissau”, mas também criando a ponte com a Europa. E assim nasceu o “Paraiso Di Gumbe”! Deslocaram todos os meios técnicos e uma equipa de produção para a Guiné-Bissau, com os melhores produtores. Levei-os lá com a intenção de mostrar o país, fazer a história, valorizar os músicos locais, tudo o que apreendi lá e mostrar a simplicidade, a harmonia e a coragem das pessoas; internacionalizar-me e aos outros que estão lá.

“Paraiso Di Gumbe” foi um dos álbuns mais caros da história da música africana, por tudo que custou, desde equipa de produção que nos acompanhou, canais de televisão e o documentário que fizemos para mostrar o país, as nossas riquezas e sobretudo as pessoas. “Paraiso Di Gumbe” dignifica a música da Guiné-Bissau por duas razões: porque é gravado pela BBC, que dispensa apresentações, e porque é um disco que está entre os 20 melhores. Será difícil de substituir, pela enorme dimensão que a BBC criou à sua volta.

“Paraiso Di Gumbe” mostra que represento o lado positivo da Guiné-Bissau e enquanto poder ter a sorte de cantar e levar a bandeira do país e escrever o seu nome no mundo, vou fazê-lo, como vai acontecer agora em Macau, mostrando um país que tem muito para dar.



“A Tina é hoje uma das bandeiras da nossa cultura”

Fui nomeado na Galiza como autor revelação, não sabia que era também actor, mas descobriram-me e a peça “Humor Neghro”, com Carlos Blanco, virou moda. Continuámos a peça e agora chama-se “Africaniza-te”. Em “Humor Neghro” mostramos a Guiné-Bissau e isso é uma coisa que sempre fiz. Mostramos a Tina e a importância deste instrumento musical. A Cabaça é importante para nós na Guiné-Bissau. Valorizo muito a Tina. Fui o primeiro produtor a introduzir a Tina na gravação do álbum de Iva & Ichi e a Tina hoje é uma das bandeiras da nossa cultura. E é Tina e não “Tambor de Água” que gosto de chamar-lhe. Fala-se muito da Corá (Kora) mas as pessoas não dizem que é um instrumento que vem da Guiné-Bissau, de Cansala, e tudo isso são sonhos que um dia pretendo realizar, chamando o mundo para mostrar a nossa cultura. Mas existem sempre burocracias quando tentamos algo que no nosso país não é prioridade.

“Alô Irmão, com Narf, é mais um projecto para levar longe o nome da Guiné-Bissau”

Mostra que vários projectos podem e vão acontecer, porque Narf não acreditava que eu aceitasse. Achava-me diferente. Conhecemo-nos no “Festival Cantos na Maré”. Quando ele ligou, deu voltas e voltas até que explicou e eu aceitei e começámos a compor. E isso depois de chegar de Angola, onde recebi o prémio da revista “África Today”. Gravámos “Alô Irmão” ao vivo e rodámos no mundo inteiro, um disco com qualidade e com muitos fãs. O lançamento em Portugal foi muito bom! Fiquei contente com a presença do público e também com os colegas músicos que marcaram a sua presença. Tenho esperança que seja mais um projecto para levar longe o nome da Guiné-Bissau.

“Quero gravar o meu próximo trabalho a solo, à minha maneira, o mais urgentemente possível”

Neste momento tenho vários projectos. A música é algo que não me falta, graças a Deus. Em todos os lados surgem-me músicas e há muitas antigas que ainda não estão gravadas. Penso que me ficava bem gravar um disco no próximo ano, mas também queria gravar um disco para promover a cultura da Guiné-Bissau e os mais velhos que me deram o colo, para os homenagear e lembrá-los a todos. Mas esse projecto depende de apoios que estão a demorar. O meu disco é algo que quero gravar o mais urgentemente possível e à minha maneira. E isso quer dizer mostrar os nossos instrumentos e quero tocá-los todos.

Quero aproveitar para apelar às pessoas que comprem os discos. Sobretudo nós, os filhos da terra, pelas pessoas que querem fazer algo. É preciso ajudar também quem trabalha.

“Criar um ambiente para poder dizer adeus à agressividade e à violência, e bem-vindo à paz e à harmonia”

Não posso fugir… a Guiné-Bissau está numa situação difícil. Nunca apoiei os políticos e espero nunca fazê-lo. Mas há uma onda positiva. Aliás, o desporto já está a mostrar isso. Acho que o próximo ano pode ser bom a nível da cultura. Se mantivermos esta onda, podemos ter uma participação no palco internacional e ter festivais internacionais.

Devemos apostar na Educação e criar um ambiente para poder dizer adeus à agressividade e à violência, e bem-vindo à paz e à harmonia. O povo sabe o que quer. Simplesmente tem muitos obstáculos. Na África Ocidental devemos ser o país que tem mais para dar, mas ainda não deu nada. A nível turístico nada foi feito. Temos praias lindíssimas e muito mais.

A Arte, e em especial a música, é uma das coisas que mais evoluíram na Guiné-Bissau. Desde a independência os músicos têm mostrado a sua vontade de participar no desenvolvimento do país.

“Tem de se trabalhar na Cultura, porque isso faz com que o País saia da depressão em que está”

Gosto do meu País – adoro a chuva da Guiné-Bissau – e tento homenageá-lo com aquilo que sei fazer melhor: cantar e tocar. Cada vez que estou no palco tento levar as pessoas numa viagem à Guiné e mostrar o lado positivo do país.

Espero como homem, filho da Guiné-Bissau, poder fazer parte do desenvolvimento do País e poder levar os meus amigos para lá. Há vontade e é preciso ter a paciência e trabalhar, porque sabemos que nada vai a casa de ninguém. Devemos adaptar exemplos de Cabo Verde em termos de festivais, valorizar mais o nosso carnaval e fazer concursos de misses no País. Há que ter projectos, que devem associar-se à Educação e incentivar os miúdos a estudar. Tem de se trabalhar na Cultura, porque tudo isso faz com que o País saia da depressão em que está e proporciona estabilidade emocional.

Acho que a Arte deve andar junta com a Saúde e a Educação, para o bem do Desenvolvimento.
Texto: Saibana Baldé

Fotos: divulgação

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

RENDEZ-VOUS DE SIKO - NOVO CD DE PATCHE DI RIMA


Promessa é dívida. Patche de Rima acaba de cumprir a sua promessa. Desde 2007 que o conceituado músico guineense dedicou-se à composição dos temas para o seu álbum de original. É o segundo depois do “Genial Amor” que teve grande sucesso junto do público, guineenses e não só. A boa notícia chega agora. Chama-se RENDEZ-VOUS DE SIKO e promete ser um caso sério de sucesso.

O press do lançamento contextualiza a razão do projecto afirmando “O SIKO é conhecido no meio cultural guineense como um dos instrumentos mais utilizados na música tradicional Tina. Usa-se em geral como solo nas grandes manifestações populares ao exemplo das tardes folclóricas de Tina, das festas culturais como o Carnaval e nas claques durante encontros desportivos. 
Após alguns anos de carreira musical e análise no meio cultural guineense, o Patche di Rima decidiu investir-se de forma mais aprofundada na busca dum nome comum e um estilo que poderia servir de realce para Gumbé música moderna guineense no contexto regional, internacional e mundial.”

Neste álbum vimos Patche a elevar patamar das suas inspirações e causas. Assumindo que trata-se de um “reencontro com o renascimento da nova identidade africana como também a determinação de promover um novo combate para o rejuvenescimento do Continente Africano nos seus diversos sectores com particular ênfase para a cultura e musica”. A ambição é justificável ou não fosse o Patche um músico que é hoje internacionalmente conhecido e grande promotor da imagem positiva da Guiné-Bissau.  

Com diversos estilos entre os quais Gumbé, Afro Zouk, R&B, Afro Beat entre outros. Mas o título não engana o SIKO da Guiné-Bissau é o centro do álbum. O artista que assume que a sua missão é valorizar o que de melhor o país tem, aposta agora em levar este ritmo quente da Guiné-Bissau para outras paragens.  

As composições deste álbum voltam a trazer letras de ambições que o Patche tem para a África, para a Guiné-Bissau mas também trazem dedicatórias de amor e amizade. Em todo álbum o acento tónico passa pelos ritmos dançantes e quentes da Guiné-Bissau, isso apesar de as músicas serem cantados não só em crioulo, mas também em português, francês, russo, indiano, inglês entre outros. São doze músicas que mostram que o Patche não está no mundo de música para brincar.

1.      JEUNE AFRIQUE
2.      MY ONLY ONE
3.      NAÇÃO LUSA
4.      NHA TRADIÇÃO
5.      SOLO QUIERO
6.      NHA LUZ DIVINA
7.      REVOLUSSON DI SIKO
8.      ALTEZA
9.      GUINE TEM KU TENE PAZ
10.  WASSINDJY
11.  RENDEZ-VOUS DE SIKO
12.  IDENTIDADE RESSUSCITADA